Em expedição na Antártida, Inmet instala novos instrumentos para coleta de dados

Instrumentos de medição de radiação ultravioleta e de ozônio na superfície terrestre vão contribuir para estudos sobre mudanças climáticas

Publicado em 25/04/2023 09h00 . Última modificação 25/04/2023 11h14 .

Uma recente expedição para a Antártida com foco na análise das mudanças climáticas e seus impactos no mundo contou com o apoio e participação do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Em quatro semanas, a viagem foi concluída com a instalação de novos instrumentos físicos, químicos e meteorológicos, sendo dois de medição de radiação ultravioleta e outro de medição de ozônio na superfície terrestre.

A expedição começou no dia 29 de novembro de 2022 com uma equipe formada pelo meteorologista do Inmet, Franco Nadal Villela, 46 anos, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Heber Passos, 60 anos, e o físico da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Heitor Evangelista, 59 anos. Após a saída do Brasil, o trio desembarcou em Santiago, no Chile, e, na sequência, na cidade chilena de Punta Arenas, no extremo sul do País. De lá, a expedição seguiu para o acampamento Union Glacier, localizado no continente gelado.




Devido às condições do tempo, os pesquisadores tiveram que esperar dois dias para a acomodação no Criosfera 1, primeiro módulo científico brasileiro instalado no interior da Antártida. “Com apenas três pessoas, nossa equipe foi a menor a concluir a expedição em um período de tempo maior desde a instalação do Criosfera 1. Chegamos ao módulo em um avião especial, que possui esquis no lugar das rodas, com o tempo muito desfavorável, ventos fortes, temperatura de -16°C e sensação térmica de -40°C”, conta o meteorologista Franco.



Crédito: Franco Nadal.


Preparativos e novos instrumentos

O planejamento para uma viagem dessa natureza começa muito antes do embarque. O Inmet, em parceria com o Inpe, a UERJ e o InCt da Criosfera (órgão financiador), teve que desenvolver programas de coleta de dados para contemplar os novos instrumentos de medição de radiação ultravioleta e de ozônio da superfície que seriam instalados no local.

Expedição teve como objetivo a instalação de novos instrumentos de medição de radiação ultravioleta.

“A radiação ultravioleta também produz ozônio, o que confirma a existência de uma interação entre a superfície e a radiação solar. Portanto, ter instrumentos capazes de fazer essas medições é fundamental para estudos sobre mudanças climáticas. A análise dos novos dados, inclusive, já começou no Brasil. Não podemos esquecer que a Antártida é uma região muito remota, com pouquíssimos dados e um potencial enorme para pesquisas”, destaca Franco.

O meteorologista afirma ainda que a Antártida é um dos lugares mais limpos e preservados do planeta e, mesmo assim, é possível identificar vestígios da ação humana. “É impressionante como conseguimos detectar elementos que vieram de muito longe em uma região tão remota. É exatamente por isso que precisamos conhecer mais a Antártida. Dentro do panorama de mudanças climáticas, o Ártico é muito mais avançado em termos de pesquisas e monitoramento”, lamenta.

Durante a expedição, a equipe brasileira ainda fez a manutenção e a troca de baterias e turbinas eólicas de instrumentos antigos. “Havia três anos que não íamos ao Criosfera 1. No geral, as informações são enviadas por satélite, mas muitos dados de maior precisão, que ficam arquivados no módulo, estavam começando a se perder. Nossa missão era não deixar isso acontecer e resgatar esse material”, acrescenta Franco.

Crédito: Franco Nadal.



O meteorologista ressalta ainda a importância do acompanhamento de medidas que minimizam os impactos das mudanças climáticas. “Existe uma preocupação mundial com a camada de ozônio e, de fato, muitas medidas vêm sendo tomadas a respeito disso. Alguns estudos até já mostram uma melhora do cenário. O que a nossa expedição busca agora é monitorar e comprovar essa melhora”, completa.

Desafios

Com geleiras enormes, a Antártida é o continente mais frio e seco do planeta e o maior deserto do mundo. Uma expedição para a região, portanto, exige muita preocupação com a segurança e saúde dos visitantes. No caso do meteorologista Franco Nadal, além de exames cardiológicos, de pulmão e de sangue, ele optou por praticar atividade física regularmente antes da viagem. “Eu fui liberado para a expedição após análise médica, mas sabia que precisava de mais condicionamento físico. Por isso, passei a ter uma rotina de exercícios e isso foi extremamente importante”, afirma ele.

Crédito: Franco Nadal.


Um local remoto como a Antártida dificulta a instalação de uma estrutura de hospedagem completa. Dessa vez, a equipe de brasileiros contou apenas com três barracas adaptadas como cozinha, banheiro e dormitório durante toda a expedição. “É complicado e perigoso se estabelecer em um lugar assim, a logística precisa estar muito alinhada. Afinal, somos um pontinho vermelho minúsculo a perder de vista na imensidão”, declara o meteorologista, fazendo referência à cor do Criosfera 1.

Crédito: Franco Nadal.


Na Antártida, o trabalho da equipe vai além do técnico. Durante a viagem, os pesquisadores tiveram que retirar todo o gelo acumulado em três anos, desde a última expedição. “Tivemos muito esgotamento físico, sem contar o risco de hipotermia que existe depois que o corpo esfria”, relembra Franco.




Crédito: Franco Nadal.


O Criosfera 1 fica localizado a duas horas e meia da equipe de resgate mais próxima. São centenas de quilômetros até um possível ponto de emergência. “Mesmo assim, por causa das condições do tempo, não significa que o resgate chegaria se tivéssemos algum acidente”, ressalta Franco.

Durante a viagem, brasileiros presenciaram um halo solar duplo com parélios (princípio semelhante ao do arco-íris).

Apesar do perigo, na Antártida, é possível presenciar fenômenos naturais raros. A equipe brasileira, por exemplo, foi agraciada com um halo solar duplo com parélios (princípio semelhante ao do arco-íris), que reflete nas partículas de gelo e não nas moléculas de água.



“Não tinha visto nada igual antes. Além disso, recebemos a visita de um Petrel Antártico, uma ave grande que nunca tinha sido vista naquele ponto. Diante de situações assim, nós voltamos para casa com a certeza de que cuidar do nosso planeta é algo urgente”, conclui Franco.


> Para acessar os dados, busque por “Criosfera” em mapas.inmet.gov.br.


O INMET é um órgão do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e representa o Brasil junto à Organização Meteorológica Mundial (OMM) desde 1950.


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