Onda de calor: Seca e chuva em excesso no Brasil, calor extremo no Hemisfério Norte

Entenda o que está acontecendo.

Publicado em 19/07/2022 16h19 . Última modificação 20/07/2022 16h17 .

O verão no Hemisfério Norte teve início há um mês e diversos países da Europa já sofrem com uma onda de calor extremo.

Nos últimos dias, o Serviço Meteorológico do Reino Unido (Met Office) emitiu o primeiro Aviso de calor extremo para o país e para a Europa Ocidental. Pela primeira vez foram previstas temperaturas acima de 40°C, no Reino Unido, e de até 46°C em Portugal e na Espanha.

O calor permanece em grande parte da Inglaterra e em outros país da Europa, porém com menos intensidade que nos dias anteriores.

Segundo o relatório publicado pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) lançado em fevereiro, a frequência de certos tipos de eventos climáticos extremos está crescendo devido às alterações climáticas globais atribuídas às atividades humanas.

No Brasil e em todo o mundo, altas temperaturas, secas e enchentes vem castigando cidades e campos com fortes impactos sociais e econômicos, especialmente na agropecuária, tendo como causa, ao menos em parte, a influência do fenômeno La Niña, atuante desde o segundo semestre de 2020. 

Segundo o meteorologista do INMET, Mozar de Araújo Salvador, mestre e doutor em Climatologia, a onda de calor na Europa e Estados Unidos e as chuvas intensas em parte do Nordeste podem ser explicadas, entre outros fatores, pela presença do fenômeno que tem como característica favorecer ou potencializar tais condições climáticas. Com a temperatura média do planeta cada vez elevada, as condições climáticas tendem a ser ainda mais severas.

Figura 1: Anomalias de Precipitação e Temperatura de 20 de junho a 20 julho nos EUA. Fonte: NOAA.


Figura 2: Anomalias de Temperatura de 10 a 16 julho na Europa. Fonte: NOAA.


Tendências do clima nos próximos meses


“No Brasil os efeitos da La Niña se concentram mais na parte norte do Brasil, pegando o Nordeste com tendência de chuvas acima da média enquanto, na parte mais sul do país, há uma tendência de irregularidade das chuvas, ou seja, uma tendência de que chova de maneira mais concentrada em poucos dias”, explica Mozar.

Espera-se que o La Niña ainda persista durante todo o inverno, podendo atingir o início da primavera. Segundo o especialista, ainda há chance de que o fenômeno passe desse período, indo além da primavera e pegando o início da estação de verão, que começa em dezembro. Mas ainda há muita imprecisão com relação a essas previsões de mais longo prazo, pois as incertezas dos modelos são proporcionalmente maiores.

“É muito especulativo afirmar categoricamente que teremos o verão do Hemisfério Sul ou o inverno do Hemisfério Norte ainda sob a ação da La Niña, mesmo que tal hipótese não esteja descartada, pois a incerteza ainda é muito grande com relação a isso”, diz o meteorologista.


Impacto


Segundo Mozar Salvador, além dos transtornos gerais causados pela onda de calor, existem os problemas econômicos. “Isso impacta a pecuária e a agricultura, que podem ser afetadas pelo excesso de calor, que geralmente vem acompanhado pela falta de chuva. É um efeito duplo da atmosfera que afeta a economia.”

De acordo com recente relatório publicado pelo IPCC, caso as temperaturas continuem a subir, a produção de arroz poderia cair em 6% com altas emissões, ou 3% com cortes rápidos de emissões. A produção de trigo poderia cair 21% com altas emissões ou 5% com cortes rápidos de emissões. Já a de milho em 10% com altas emissões ou 6% com cortes rápidos de emissões.

Por outro lado, o calor extremo também causaria redução no crescimento animal e da produção de leite e ovos, além de aumentar a mortalidade dos animais, uma vez que o gado, os suínos e as galinhas são raramente sujeitos a estresse térmico extremo na maior parte do Brasil.

Além de impactar financeiramente o país dessa forma, estima-se que o consumo de energia aumente cada vez mais, já que serão necessárias câmaras especiais para manter os alimentos em temperatura ideal, o que irá alterar a economia brasileira devido ao alto preço destes equipamentos.

Levando em conta tais implicações econômicas, há ainda a possibilidade de os trabalhos de financeirização do dado meteorológico, a exemplo do uso de seguros contra fenômenos climáticos extremos e da natureza, sofrerem algumas mudanças com relação às suas formas de atuação.

Segundo Paulo Costa, Coordenador-Geral de Modelagem Numérica do INMET, o Instituto tem apoiado empresas de gestão de risco e do agronegócio na construção de indicadores de risco (SIM INMET) ligados às variações climáticas. “Tais indicadores ajudam na mitigação das consequências danosas às atividades econômicas e protegem vidas”, explica.

O SIM INMET é um seguro de índice paramétrico em que a seguradora, o cliente e o corretor acordam um parâmetro que vai disparar o gatilho de cobertura da apólice do seguro. Esse parâmetro é ligado a variáveis climáticas, como, por exemplo, excesso ou falta de chuva, ou ocorrência de vento forte, ou ainda variações não esperadas em níveis de temperatura. O contrato de seguro define o período em que o parâmetro precisa ser atingido, a localização de cobertura e as informações climáticas do Instituto, realizando uma Análise de Gestão de Risco Climático personalizada.




O INMET representa o Brasil junto à Organização Meteorológica Mundial (OMM) desde 1950.

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